domingo, 24 de abril de 2011

Perdi a fé - Ricardo Gondim

Sentado na quarta fileira de um auditório superlotado, eu ouvia um renomado orador cativar mais de mil pessoas com sua oratória carismática. Na contramão do frenesi provocado por ele eu repetia para mim mesmo: "Não, não posso negar, já não comungo com os mesmos pressupostos deste senhor". Aliás, parece que ultimamente vivo em controvérsias, tanto pelo que escuto quanto pelo que falo. Algumas pessoas me perguntam se provoco polêmica para fazer tipo. Outros querem saber se sei aonde quero chegar. Respondo: - Estou mais certo dos caminhos que não quero trilhar.

Muito de minhas controvérsias surgiram porque eu me recuso a escamotear dúvidas com cinismo. Fujo de tornar-me inconseqüente nas declarações que possa fazer a respeito de Deus e da fé. Receio perpetuar uma espiritualidade desconectada da vida.

Reconheço, algumas intuições sobre teologia ainda estão verdes. Mas, nem sei se quero que elas amadureçam. O pouco de sentido que me fazem basta para que eu me ponha a garimpar a verdade. E isso é bom. Há um fluxo que me faz abandonar certas pedras onde outrora tomei pé. O que abandonei?

1. Não consigo mais acreditar no Deus inativo, que carece de preces "verdadeiras" para mover-se. Uma frase que não faz nenhum sentido para mim? "Oração move o braço de Deus".

2. Não consigo mais acreditar que os milagres de Deus sejam prêmios que privilegiam poucos. Não consigo entender que Deus se comporte como um "intervencionista" de micro realidades, deixando exércitos de ditadores “correrem frouxos". Inquieta-me saber que Deus tenha uma "vontade permissiva" para multinacionais lucrarem com remédios que poderiam salvar vidas. Não aceito que haja uma razão eterna para que governos corruptos atolem os mais pobres na mais abjeta miséria.

3. Não consigo mais acreditar que Deus, mantendo o controle absoluto de tudo o que acontece no universo, tenha sujado as mãos com Aushwitz, Ruanda, Darfur, Iraque e outras hecatombes humanas. Não aceito que ele, parecido com um tapeceiro, precisa dar nós malditos do lado de cá da história enquanto, do outro lado, na eternidade, faz tudo perfeito. Qual o propósito de Deus ao “permitir” que crianças sejam mortas pela loucura de um atirador ou que uma menina esteja paraplégica com bala perdida?

4. Não consigo mais acreditar que a função primordial da religião seja acessar o sobrenatural para tornar a vida menos sofrida. Os cristãos, em sua grande maioria, tentam fazer da religião um meio de controlar o futuro; praticam uma fé preventiva, pois aceitam como verdade que os verdadeiros adoradores conseguem se antecipar aos percalços da vida; afirmam que os ungidos sabem prever e anular possíveis acidentes, doenças, ou quaisquer outros problemas existenciais do futuro. Creio que a verdadeira fé não foge da lida, mas encara o drama de viver com coragem.

5. Não consigo mais acreditar em determinismo, mesmo chamado por qualquer nome: fatalismo, carma, destino, oráculo. Depois de ler e reler o Eclesiastes, parei de acreditar que o cosmo funcione como um relógio de quartzo. Acredito que Deus criou o mundo com espaço para a contingência. Sem esse espaço não seria possível a liberdade humana. Creio que no meio do caminho entre determinismo e absoluta casualidade resida o arbítrio humano. Entendo que liberdade é vocação: homens e mulheres acolhendo o intento do Criador para que a história e o porvir sejam construídos responsavelmente.

Reconheço que posso assustar na teimosia de importar do mundo do rock para dentro da espiritualidade o significado de “metamorfose ambulante". Nessa constante fluidez, a verdade pode ser simples, mas nunca deixará de ser perigosa. A senda sulcada da verdade foi sulcada por muitos, entre os passos, porém, percebo a marca das sandálias do meu Senhor. E só isso basta para eu prosseguir.



Soli Deo Gloria

14-04-11

sábado, 16 de abril de 2011

Preciso de um Amigo


A paz do Senhor Jesus caros leitores. Esta semana passei por uma experiência muito forte onde alguns valores dos quais eu, por ser cristão, achava que estavam bem firmados e sólidos, desmoronaram diante de mim. No último dia 13/04 veio a falecer um tio meu por decorrência de problemas cardíacos agravados pelo diabetes. Este tio sempre teve um temperamento forte e muita das vezes, era incompreendido em suas palavras e atitudes e isso, de certa forma, distanciava as pessoas dele, eu mesmo pra ser sincero não tinha muitas afinidades e raramente parávamos para conversar, pois é meus amados mediante a um cenário de morte muitos questionamentos nos fazem refletir, vendo o corpo dele ali pensei em muitas coisas tais como, no tempo que perdemos na vida correndo atrás de coisas materiais e deixando as coisas eternas de lado, nunca pensamos que a morte anda a espreita e que nos chega sem avisar ou pedir licença, em fim pensei em várias coisas destas que só pensamos em momentos assim. Queridos mas o que eu quero realmente registrar aqui neste texto foi um desabafo de um tio, irmão do que havia falecido emocionado com tudo o que ocorreu e de posse da palavra que lhe foi concedida durante o culto fúnebre ocorrido na manhã de 14 de Abril de 2011, horas antes do sepultamento ele disse as seguintes palavras:
“Irmãos aqui foi falado muito sobre aceitar a Cristo como Salvador, foi falado muito sobre o não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje e também se falou muito no amor, amor este que em seus últimos meses de vida ele não sentiu (referindo-se ao morto). Lembro-me bem das vezes que ao vê-lo em sua dificuldade por causa da doença e percebendo o desprezo das pessoas próximas pela aquela situação, muitos diziam: “Ah mais ele sempre foi uma pessoa rude, nunca quis saber de ninguém e esta pagando por sua ruindade”... Queridos isso me magoou profundamente e me lembrei daquela passagem onde as pessoas chamavam Jesus de “Bom mestre” e ele as repreendendo dizia “Por que me chamam de bom, só há um que é bom que é o meu Pai que esta nos céus”... Se Jesus mesmo sendo o Filho do Deus Altíssimo se recusou a ser chamado de bom, quem somos nós para nos julgarmos e nos separarmos entre bons e maus? Me lembro que em sua última cirurgia ao buscá-lo no hospital percebi nos olhos dele um brilho de alegria e perguntei a ele qual era o motivo e ele me disse: “Estou feliz pela minha alta, foi uma cirurgia difícil, mas deixa pra lá as coisas ruins e vamos logo pois em minha casa estarão o meu pastor e alguns irmãos da minha igreja me esperando...vamos”... Balancei a minha cabeça e por dentro chorei pois sabia que em sua casa não haveria ninguém para o recepcioná-lo...

Queridos as palavras acima ditas pelo meu tio penetraram com tanta intensidade e profundidade no meu ser que não me contive e cai no choro, sabe nas igrejas a fora somos levados a crer que temos um valor, que somos importantes para Deus e que somos a menina dos seus olhos... Sabe realmente podemos até ser tudo isto para Ele que é bondoso e misericordioso, mas sendo sensatos e sinceros com nós mesmos será que somos tão especiais assim?
Somos seletivos, egoístas e mesquinhos, nossos atos muitas das vezes são motivados por recompensas até mesmo na tratativa com Deus, somos fiéis até certo ponto com Ele, mas aí Dele senão nos abençoar... O cristianismo que vivemos não passa de uma farsa, de um joguinho barato de meras palavras lançadas ao vento, digo isto fundamentado nas seguintes questões que peço que você reflita e responda a si mesmo se você tem praticado alguns dos mais importantes mandamentos:
Pessoas estão doentes e sozinhas em suas camas e hospitais e o que estou fazendo?
A solidão é o mau do século, quantos novos amigos eu fiz este ano?
A minha família é grande, quantos parentes eu visitei nos últimos 10 anos?
Tem algum irmão da minha igreja desempregado passando por necessidades?
O que eu sinto ao ver a dor estampada no rosto dos meus semelhantes?
Será que realmente Deus esta feliz com a minha vida e com a minha conduta moral e cívica?
Será que o simples fato de ser batizado, freqüentar uma igreja, ser dizimista, cantar e pregar são suficientes para Deus?

Meus irmãos este apenas foi um resumo rápido dos questionamentos que fiz em meu interior ao ver ali o corpo do meu tio naquele caixão, sentindo a culpa de ter tido a oportunidade de alguma maneira ter podido fazer algo para ajudá-lo seja o levando ao médico, comprando algum medicamento ou simplesmente oferecer a ela a minha companhia.
Sabe irmãos ao me deparar com todos estes questionamentos descobrir não valer nada, toda a minha teologia e todo o meu conhecimento são trapos e certamente se apagarão quando chegar à hora da minha morte, o apostolo Paulo diz em sua primeira carta aos Coríntios capítulo 13 que sem o amor somos como o sino que bate, faz barulho mas esta vazio, e vazio é o que eu sinto neste momento, decepcionado comigo, abatido e frustrado, mas com um propósito que aliás a partir de hoje transformo em missão que é amar a todos independentemente de raça, credo, religião, opção sexual e conduta, pois é isso o que o nosso Deus espera de nós...
Desafio-lhes neste momento a pegar o seu telefone e ligar para um ente querido ao qual há muito tempo você não vê e não fala, lembre-se daquele irmão que esta doente e gaste um pouquinho do seu tempo o visitando, pois isso o fará muito bem ao doente e lhe acrescentará galardão nos céus, e para você que é Pastor ou líder religioso, não se esqueça das palavras do mestre ao ensinar a parábola da ovelha perdida, pois há muitas ovelhas perdidas, feridas e sem direção precisando de mim e de você!

A palavra “cristão” quer dizer pequeno cristo, sejamos nos pequenos cristos e sejamos conhecidos não apenas pelo que pregamos e dizemos ser a verdade, mas sim pelo que fazemos, pois somente pode se chamar cristão aquele que vive e obedece aos mandamentos de Cristo que os resumiu a amar o Senhor teu Deus com todas as nossas forças e todo o nosso entendimento e ao nosso próximo como a nós mesmos!!!

No mais que Deus nos ajude e nos fortaleça a cada dia!

Avante por Cristo e nem um passo para trás...

Evandro Manoel