domingo, 4 de setembro de 2011
Com a vida à flor-da-pele
Ricardo Gondim
Estou inebriado de beleza, esmagado pelo esplendor.
Sem mais nem menos, sinto-me batizado por uma Presença. Tudo me encanta, tudo me seduz. Passo a gostar de pequenos gestos, relembrar momentos fugidios que perduraram em minha retina e me deram enorme alegria. Em mim, ressuscitam olhares, toques e sílabas soltas que marcaram a minha alma.
Sei que esta presença estranha que me possui é o Espírito. Ele abre um estojo de jóias, que é a saudade, para ressuscitar tudo o que já me fez sorrir.
Estou convencido de que só percebo a sombra de Deus, mas ela é formosa como a asa de uma graúna, gentil como o sorriso de uma criança e forte como o olhar do ancião.
O Vento sopra e, de repente, tudo me fascina. A genialidade poética do Chico Buarque e a doçura do Henry Nouwen se somam à erudição de autores que leio e fico com um impulso de correr, saltar.
Meus olhos se enchem de azul, meu coração acolhe tudo o que vem da negritude. Minha pele se cobre com o rubro da sensualidade. Sinto-me vivo.
Percebo o abraço divino e tudo me arrebata, tudo me endoidece. Vejo-me encharcado de eternidade, assombrado pela vastidão sideral, atraído pelo infinito, desejoso pelo devir. Tenho o olhar absorto no horizonte improvável.
O Espírito vem e tenho anseio de ficar só numa catedral vazia. Sua presença me conduz a trilhas bucólicas. Guardo a sensação de que este companheiro, aquele que faz arder corações, me acompanha.
O Espírito me reveste de amor pela vida. Desfaço os nós da discórdia, quebro as lógicas do ódio e me inundo de bondade. Ganho o ímpeto de gritar: sou de um Reino onde justiça, paz e alegria bailam juntos.
Por algum motivo, no êxtase do sagrado, perfumo a casa com velas aromáticas, leio Pessoa e escuto Bach. Lembro de quem perdi e acalento os que me são caros. O Espírito me deixa com a alma à flor-da-pele. Sinto a vida em estado puro.
Soli Deo Gloria.
(Dedicado a Rubem Alves)
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